domingo, 6 de fevereiro de 2022

Isolamento

 


Socialmente distanciados,

amargurados pela solidão,

que nos aflige e não dá perdão.

 

Nem assim calados.

Impulsionados pelo momento,

que de tão doente

não nos permite um instante de alento,

apenas o dramático isolamento.

 

Mas, o que fazer?

 

Talvez gritar,

Talvez sonhar.

O importante é protestar,

“Batendo panela”,

acreditando no renascimento

do mundo pós-isolamento.


Caros amigos, o poema apresentado compõe o projeto “Isolamento, do Caos ao Imaginário”, crônicas e poemas sobre a realidade caótica e desgoverno do nosso país. Quem quiser conhecer, o livro encontra-se em pré-venda, pela Kotter Editorial. Um abraço.

https://kotter.com.br/loja/isolamento-do-caos-ao-imaginario-helio-valim/

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Por skyline natural

 


Angustiado, travado,

perdido no trânsito.

Parado, congestionado,

na busca por ânimo.

 

Procuro o horizonte,

até agora perdido,

onde o dia desponte

e me reponha o sentido.

 

Atrás daquela muralha

novo dia hei de encontrar,

como uma fagulha

começando a crepitar.

 

O entardecer de raios rubros

desenha a perspectiva,

que escondida procuro,

acirrando tal expectativa.

 

Continuo a busca por skyline

que contemple desenho real,

sem prédios em underline,

apenas um traçado natural.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Lago-mar


Momento perfeito, 
maré baixa, lago na praia. 
Na água tal qual espelho 
a brincadeira se espraia. 

A criançada agora liberada, 
diverte-se na água parada, 
sem ondas, rasa, sem receios 
apronta artes e folguedos. 

Tão inocente algazarra 
libera antigas amarras 
de lembranças esquecidas. 

Afrouxar nossas memórias 
permite recuperar histórias 
de amizades, há tempos, perdidas

domingo, 22 de novembro de 2020

Um píer que um dia existiu (Miniconto)

 


Um garoto carioca típico dos anos setenta do século XX, frequentador assíduo da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, cabelo parafinado, sem muita expectativa ou interesse em buscar um trabalho, vivia de bicos! Surfista por opção, naturalista por convicção.

Certo dia se apaixonou, pela menina mais linda da praia, surfista com o corpo dourado pelo sol do verão. Apaixonados, trocaram juras de amor admirando o pôr do sol no Píer de Ipanema.

O Píer, assim conhecido, era uma estrutura metálica montada para a instalação do emissário submarino, que lançaria esgoto urbano a quilômetros mar adentro, que cortava as areias da praia e produzia as melhores ondas, disputadas por grandes surfistas. O local virou point onde artistas psicodélicos se misturavam aos jovens surfistas para conversarem e sonharem.

O romance floresceu, os apaixonados se casaram, tiveram filhos, trabalharam, curtiram, viajaram, viveram... Os anos passaram, o século mudou, os sonhos mudaram. Não existe mais o Píer, as ondas e as areias perderam o seu glamour. O Psicodelismo virou moda que passou. Mas o amor construído a partir de uma paixão praiana continua surfando nas melhores ondas de um píer que um dia existiu.

Qualquer botequim (Miniconto)




Num fim de tarde qualquer, em qualquer lugar, em qualquer botequim...
 
Amigos em roda, jogavam carteado. A mão parecia boa, mas qualquer um poderia ganhar, pois, o que importava era com quem ela iria ficar. Com olhar sereno como o suave entardecer, observava distante aquele grupo de amigos que a olhavam com grande querer. A partida já se prolongara para além de meia dúzia de garrafas de uma cerveja que o vento quente, daquele final de tarde, cismava em aquecer.
 
Com olhar de sedução inebriou um dos ávidos jogadores, que após virar a mesa, caminhou em sua direção, deixando os parceiros de jogo irados com o seu pouco caso com a disputa do jogo e da jovem. Tal atitude gerou um bate-boca, iniciando uma boa briga.
 
Enquanto brigavam, a jovem, de relance, percebeu que sua amiga a contemplava carinhosamente, alheia ao confronto que a todos envolvia. Aproximando-se, sussurrou em seu ouvido e, então partiu, acompanhada pela amiga que não a assediava, mas sutilmente a provocava. 

Sufocando a cor (Por quê?)

O movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) teve origem na comunidade negra nos EUA, com o objetivo de combater a violência às pessoas pretas. Esse movimento iniciou em 2013, após a absolvição de George Zimmerman que matou o adolescente negro Trayvon Martin. Em maio de 2020, o movimento ganhou dimensão com a morte criminosa, por asfixia, de George Floyd (I can’t breathe) após ser imobilizado em uma ação policial, em Minneapolis (Minnesota, EUA). Milhares de pessoas foram às ruas protestar pela vida das pessoas pretas, gerando intenso embate local.
 
No Brasil racismo é estrutural e  tem uma de suas origens no término tardio da escravidão.  Observa-se que sem trabalho ou moradia o negro liberto acabou marginalizado, exposto a violência e a miséria. Esse preconceito foi reforçado pelas tentativas históricas de “branqueamento da população” através da chegada dos imigrantes europeus e pela simplificação das relações sociais, apoiada na miscigenação, enfatizando a suposta cordialidade entre senhores e escravos, base do mito da “democracia racial”, proposta pelo sociólogo Gilberto Freyre.

Sufocando a cor (Poema)

 


Segrega-se, humilha-se... mata-se!
A odiosidade impele a humanidade,
joga-a, sem qualquer dúvida,
no fim da fila das iniquidades.
 
Não é um pensamento individual.
É uma mácula estrutural,
manchando o cerne da sociedade,
rompendo o frágil tecido social.
 
Sangrando, imolando... sufocando
a voz da comunidade.
Que, oprimida, revolta-se e grita,
Rebela-se e briga.
 
Mas, não basta o clamor legítimo das “ruas”,
não basta o calor intenso das chamas.
Deve-se atingir o âmago das almas,
corroídas pelo ódio do preconceito...
 
Resgatando, então, a humanidade perdida
na fila do descaso e da arbitrariedade,
germes dessa eloquente barbárie.
Agora rechaçada pela “rua” ensandecida!

domingo, 25 de outubro de 2020

O Imaginário

 


Sonho, a sonhar, me sinto voando.
Nas nuvens, de pés descalços, eu ando,
Bebo, na beleza do sol, o entardecer
mas, temo um dia meu sonho derreter.
 
Sonho com a liberdade, tão fria quanto quente.
Mas, é preciso que meu coração experimente,
tal dualidade de sentimentos, que me sufoca.
Tamanha emoção me eleva e me afoga.
 
Sonho, e percebo que a ponte para liberdade,
cobra no seu pedágio, o desapego da realidade
que, nem sempre, consigo pagar com dignidade.
 
Sonho, porque sobrevoo o mar da imaginação,
e me permito intensos mergulhos na emoção
que me fazem entender o que é a razão...

Do caos ao imaginário (Poema)

 

Viver em isolamento
induz o caos no pensamento.
Nesses dias, dúvidas existenciais
convivem com questões banais.
 
Rotinas cotidianas
são encaradas por doudivanas
perdidas em ações triviais,
percebidas como, intermináveis, fossas abissais.
 
Nessa realidade atópica,
até o trabalho caseiro
ganha dimensões erráticas
Pois, hoje nada é useiro.
 
Cerceado em minha liberdade,
abduzido por inverdades
busco refúgio no sonho
pois, nas lembranças, energias reponho.
 
Encontro na memória
imagens de eternos momentos.
Então, continuo lutando uma luta inglória
para fazer florescer sinceros sentimentos.
 
Assim, apaziguo
o caos que experimento.
Mesmo que por instante exíguo,
e resguardo minha sanidade para outro tempo...

Do caos ao imaginário (Por quê?)

 

O caos, segundo o filósofo grego Platão, é o estado de desordem dos elementos que vigora antes que Demiurgo, organizador do universo, ponha ordem na matéria caótica. Mas sem criar a realidade. Neste instante, essa definição faz um grande sentido, considerando a desordem de sentimentos, conceitos e realidade a que estamos submetidos. Nada faz sentido, ou melhor os sentidos mudaram, estão em reorganização. Em determinados momentos parece que o organizador do universo desistiu, foi vencido pelo caos e, portanto, o caos é o novo normal.

Não precisamos ficar presos a um “porto de ilusões”, trocando a verdade pelo prazer de estar em paz. Como aborda o filósofo alemão Nietzsche em seus trabalhos sobre o "sonhar contemporâneo". Mas, com o intuito de resguardar a sanidade do pensamento, podemos, de forma crítica, buscar no sonho da memória, alento para essa realidade liberal antiutópica, altamente entorpecente, que se apresenta.





Isolamento

  Socialmente distanciados, amargurados pela solidão, que nos aflige e não dá perdão.   Nem assim calados. Impulsionados pelo mome...